
A musicoterapia enquanto intervenção flexível e extremamente inclusiva que é, permite acompanhar a Pessoa que vive com Demência, no seu percurso quer no Centro de Dia quer na resposta Residencial Associação Alzheimer Portugal – Casa do Alecrim.
A musicoterapia é uma intervenção com efeitos positivos para a Pessoa que vive com Demência, esteja esta numa fase moderada ou já mais avançada da doença sendo um acompanhamento eficaz quer em sessões de grupo, quer em sessões individuais.
Trata-se de uma intervenção complementar de prestação de cuidados de continuidade à Pessoa com Demência e faz parte integrante do plano individual estabelecido em equipa.
Pela sua enorme abrangência e resultados comprovados pela investigação, e através das boas práticas nesta área de intervenção, salientam-se alguns benefícios terapêuticos:
– impacto na emoção, promovendo a inerente regulação
– forma não verbal de comunicação baseada na empatia
– estimula as funções cognitivas
– ajuda a regular o comportamento, diminuindo sintomas de mal-estar
– promove uma respiração mais funda
– ajuda a relaxar, diminuindo situações de grande desconforto
– diminui situações de ansiedade
– transmite um sentimento de segurança e bem-estar
– transmite um sentimento de inclusão e pertença
Esta abordagem não farmacológica foi integrada desde a abertura da Casa do Alecrim, em 2013, nos cuidados prestados à Pessoa que vive com Demência.
A integração do musicoterapeuta na equipa pluridisciplinar da Casa do Alecrim permitiu desenvolver, ao longo dos anos, projetos musicoterapêuticos de diferente índole. Abrangeu a comunidade circundante à Casa do Alecrim através de projetos intergeracionais que existiram desde 2013 ( interrompidos temporariamente devido à pandemia).
Este projeto intergeracional nasceu inicialmente em 2009 no Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia, projeto que se desenvolveu durante dois anos em Lisboa, passando em 2013 a ser replicado na Casa do Alecrim.
Através da musicoterapia houve também a inclusão de familiares (inclusão que se verificou antes da pandemia) não só em sessões de grupo que se realizaram para as pessoas que vivem na Casa do Alecrim já numa fase mais avançada da doença mas, mais tarde, durante o período da pandemia, através de telemusicoterapia.
Este período da pandemia, revelou mais uma vez a verdadeira potencialidade da musicoterapia uma vez que, através de sessões inicialmente pensadas apenas para a Pessoa que vive com Demência, foram progressiva e naturalmente incluídos familiares, cônjuges e filhos, onde um dos resultados mais visíveis foi o estabelecimento duma ponte, a promoção do bem-estar da família que na altura da pandemia permaneceu durante meses mais ou menos isolada do exterior, com as inerentes consequências de sentimentos de isolamento, ansiedade, desânimo e muitas vezes associado também a sentimentos de profunda tristeza. Através da construção de canções (sempre por videochamada) feita por quem participava, conseguiu-se o que era impensável antes da pandemia: realizar sessões de musicoterapia, à distância, com visível bem -estar para todos os participantes.
As competências do musicoterapeuta são determinantes para os resultados desta intervenção, exigindo não só competências académicas e profissionais, mas também competências pessoais, como seja a resiliência e a gestão de expectativas, ainda mais importantes no trabalho desenvolvido com as Pessoas que estão já numa fase muito avançada da demência. Por outro lado, e tratando-se duma terapia, há a necessidade do musicoterapeuta estar preparado para uma enorme capacidade de adaptação, de improviso, de criatividade, de avaliação constante, de ajuste do plano de intervenção. Embora seja uma intervenção em que há um planeamento inicial, com a respetiva avaliação, e planeamento e avaliações subsequentes é, no entanto, uma intervenção que carece de bastante elasticidade, sempre em função do outro, num cuidar de extrema empatia e de plena atenção, de atenção às reações por vezes microscópicas da Pessoa, principalmente quando a Pessoa já se encontra a viver numa fase mais avançada da doença: um pestanejar, um olhar dirigido para a fonte sonora, um amenizar das feições.
É um trabalho que vai sendo maturado, realizado sempre com enorme rigor, com muita reflexividade pessoal , totalmente conjugado com a equipa, carecendo de permanente atualização pelo que vai sendo investigado a nível científico, numa postura crítica, e continuamente focado numa perspetiva humanista onde se coloca como prioridade a comunicação e a relação de confiança, o momento, aquele momento em concreto, com aquela Pessoa em concreto.
Maria Gabriela Nicolau – Musicoterapeuta na Alzheimer Portugal – Casa do Alecrim
(Maria Gabriela Nicolau tem acompanhado estes projetos desenvolvidos na Casa do Alecrim. Musicoterapeuta certificada pela Associação Portuguesa de Musicoterapia, tem o mestrado em Musicoterapia pela Universidade Lusíada de Lisboa e experiência de quase 17 anos).