
Testemunho
Pensei muito antes de decidir defender o livro “O meu pai tem Alzheimer”, de Marie-France Billet. Talvez por estar demasiado envolvida na minha profissão com esta doença, o livro me tenha marcado de uma maneira diferente.
Mas penso que todos nós mais tarde ou mais cedo nos iremos deparar com esta situação, seja com um familiar, amigo ou conhecido. Penso também que a sociedade de hoje está de costas voltadas para esta situação, que é cada vez mais frequente e de que toda a gente fala mas pouco ou nada sabe.
O livro é um retrato fiel do sofrimento, da angústia, do sentimento de impotência que a personagem sente ao ter de lidar com esta doença terrível que se abateu no seu pai.
Talvez eu devesse ter escolhido um livro de carácter geral e isso fosse mais apelativo para todos, mas porque não alertar que há pessoas que sofrem, que precisam de nós. O livro é um pedido de socorro para que nós, o cidadão comum, tenhamos consciência de que é preciso fazer alguma coisa.
É urgente humanizar os serviços e as pessoas. Não se pode por de lado alguém que tem Alzheimer, porque para a grande maioria das pessoas não há nada a fazer. Mas há muito, e o livro mostra-nos que com amor, solidariedade, paciência (muita paciência) é possível que aquele ser humano comunique.
Numa sociedade tão voltada para o progresso, para os novos triunfos, é fácil esquecer aqueles que nos deram a vida, e que neste momento se sentem perdidos num mundo que já foi deles e agora não lhes pertence mais. Vivem noutro mundo, onde muitos de nós não sabe como entrar. Mas entrar é possível, e essa entrada é demonstrada com muito rigor neste livro.
Sei que hoje em dia é mais fácil ler um romance leve do que saber que ao ler este livro, o sofrimento, o medo e a angústia estão presentes desde o início.
Mas assim como este livro retrata o sofrimento, também retrata o amor, amor sem limites, e que cada vez mais se torna escasso dias de hoje.
Principalmente o amor entre pais e flhos, o amor que não é esquecido pelos pais mas que é facilmente substituido pela falta de tempo e paciência que os filhos deixam de ter. Esta obra relata na perfeição que é possivel dar a estas pessoas a qualidade de vida pela qual todos ansiamos quando chegamos a uma etapa da vida tão dificil de transpor. O livro retrata as tentativas para que aquele ?pai? que se perdeu, se encontre nem que seja por escassos instantes. E isso é possível, mas é preciso lutar e nunca desistir só pelo facto da pessoa ?não estar cá?.
Recomendo a todos a leitura desta obra pois acho que no final ficamos com a sensação de que tudo foi feito, tudo foi dito e de que é sempre possível tentar o impossivel.
Maria da Glória Pinho
2011