Shelia, uma senhora num estádio inicial da Doença de Alzheimer fez este testemunho.

Eu estou a conseguir viver razoavelmente bem, grande parte do tempo eu não penso no meu problema de memória. Agora, vou passar a contar o que me incomoda…

Incomoda-me ter pedido à minha filha para ela levar as minhas roupas para as secar na máquina da casa dela. Ela não se importou, mas, depois de ela se ter ido embora, eu apercebi-me que tenho a minha própria máquina de secar roupa a qual tenho vindo a utilizar há já três anos.

Eu decidi colocar uma pequena prateleira na parede do meu quarto. Fui buscar a minha caixa de ferramentas, ao abri-la para procurar parafusos e um martelo, encontrei umas jóias, que há muito procurava.

Um dos problemas de ter fraca memória é a incrível quantidade de tempo que se despende na procura de coisas ou a tentar lembrarmo-nos onde as colocámos.

A minha filha contou-me que eu costumo telefonar-lhe para perguntar algo e, poucos momentos depois, volto a ligar para perguntar-lhe a mesma coisa.

Se necessito de telefonar a alguém, eu posso ir em direcção ao telefone e subitamente esquecer-me do que ia fazer.

Por vezes tenho dificuldades em encontrar certas palavras, quando isto acontece tento usar uma que a substitua e outras vezes não hesito em perguntar o nome dos objectos.

Esta última semana tem sido um pouco desencorajadora. Ultimamente, tenho ido às compras sem nunca levar dinheiro. No passado eu dirigir-me-ia ao Banco, mas, desta vez, eu fui às compras várias vezes e sem nunca levar dinheiro.

Já passei por situações embaraçosas, tantas, que até já pensei mudar de Banco. Ontem foi um pesadelo. Quando me dirigi ao balcão para depositar um cheque, este havia desaparecido. Olhei para o chão e para dentro da minha mala para ver se o conseguia encontrar, mas em vão.

Quando cheguei a casa e procurei na minha secretária, encontrei, para meu espanto, um recibo de depósito do cheque de que tinha andado à procura. Eu tinha depositado o cheque no dia anterior.
O pior dos sentimentos é não poder confiar em mim própria.

Ontem fui às compras e deixei as chaves no carro com o motor ligado. Eu já tive de arrombar o meu carro tantas vezes que a porta está praticamente arruinada.
Possuo uma chave extra, e tudo o que tenho a fazer é lembrar-me de a levar comigo e não a deixar dentro do carro com a porta trancada.

Shelia
s.d.

Fonte:
Alzheimer´s Disease International