Unidade de saúde, consultas da especialidade, inovadores espaços de reabilitação, investigação científica e alojamento direcionados para pacientes com doenças neurológicas, como a Doença de Parkinson ou de Alzheimer, são algumas das valências do novo Campus Neurológico Sénior.

Campus Neurológico Sénior, em Torres Vedras, é a mais recente unidade de saúde direcionada para o tratamento de doenças neurológicas, como a doença de Parkinson e a Alzheimer.

A unidade de saúde recebeu a visita de Leal da Costa, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, que procedeu à inauguração.

O Campus Neurológico Sénior abrange as áreas da clinica médica, a residência assistida, bem como, investigação nos domínios das doenças neurológicas. Dotada de instalações e equipamentos de elevada qualidade, a unidade possui um corpo clínico multidisciplinar e altamente especializado nas patologias de demência.

Joaquim Ferreira, Diretor Clínico, descreve que o Campus Neurológico Sénior se diferencia de outras unidades de saúde, dado que neste caso o doente tem acesso a consultas especializadas e tratamento que recorre a técnicas mais recentes.

«A diferença é que as consultas são muito específicas, não é uma consulta de neurologia generalista, as pessoas veem a uma consulta específica de doença de Parkinson, de doença de Alzheimer, uma consulta de tremor, uma consulta de sono, uma consulta de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e à partida a nossa preocupação é que temos pessoas com competências inquestionáveis na abordagem desse tipo de doenças», afirmou o Diretor Clínico.

«Depois há uma unidade funcional de reabilitação e a reabilitação para nós não é apenas reabilitação física», mas é também «a estimulação cognitiva e há um conjunto de técnicas novas na área da reabilitação que neste momento podemos facultar e temos técnicos formados e competentes nessas áreas e essa é claramente uma área de diferenciação», adiantou Joaquim Ferreira.

Os serviços de residência assistida estão vocacionados para os doentes com patologias neurodegenerativas. «Depois há toda a componente de alojamento, seja temporário seja mais permanente que pode estar acoplado a programas de reabilitação, ou seja, as pessoas podem fazer um programa de reabilitação de três dias, de uma semana ou de duas semanas», explicou o especialista.

Na área da investigação clínica, o Campus Neurológico Sénior está já envolvido em três projetos europeus com várias instituições de ensino superior nacionais.

«A investigação é importante porque estamos convencidos que fazendo investigação melhoramos a qualidade dos cuidados de saúde prestados. Isto aplica-se a uma estrutura com estas características como se aplica a qualquer unidade de saúde hospitalar. E um aspeto importante é que se pode fazer investigação clínica não apenas em estruturas universitárias», explicou Joaquim Ferreira.

O Diretor Clínico reconheceu que este é um desafio, mas «um desafio que já está a ser bem-sucedido porque na prática os recursos que aqui temos já estão a ser disponibilizados para projetos de investigação que já estão em curso».

A multidisciplinariedade em cuidados de saúde e a investigação são destacadas por Leal da Costa, Secretário de Estado Adjunto da Saúde. «A principal importância desta unidade tem que ver com o facto de ser uma unidade multidisciplinar» e «o aspeto que parece mais importante e de sublinhar é o facto de isto não ser apenas uma estrutura de reabilitação, uma estrutura residencial, apenas uma estrutura feita para a prestação de cuidados».

O Secretário de Estado Adjunto da Saúde adiantou que o CNS «é uma estrutura que está já neste momento envolvida em projetos internacionais de investigação e com tudo isso poderá dar formação ao conjunto de profissões que estão normalmente envolvidas no tratamento dos doentes com patologia neurológica».

Catarina Godinho, doutorada em Ciências da Motricidade é uma das investigadoras do Campus Neurológico Sénior, na área da fisioterapia. A investigadora recorre a técnicas como a Posturografia Dinâmica Computorizada para avaliar os pacientes.

É um «teste que avalia a distribuição de como é que o individuo projeta o seu centro de gravidade sobre os pés. Avalia exatamente o equilíbrio. Como é que a pessoa controla o seu equilíbrio quando está a fazer uma tarefa mais dinâmica ou uma tarefa mais estática», explicou a investigadora.

«Manter o equilíbrio quando estamos em pé exige um determinado conjunto de sinergias e de ações para que o centro de gravidade se mantenha dentro da base de suporte para que haja um equilíbrio. Claro que depois se houver ausência de informação visual esse equilíbrio fica desfavorecido», explicou.

Catarina Godinho adiantou que «aquilo que conseguimos avaliar nesse contexto é a velocidade de oscilação do centro de gravidade, como é que a pessoa controla essa oscilação. Podemos pôr uma interferência externa, podemos dificultar a informação de forma a dificultar o equilíbrio e perceber como é que a pessoa consegue-se organizar-se por forma a manter-se estável».

Recorrendo a sensores que são colocados no paciente, o teste permite uma nova abordagem de avaliação de mobilidade. «O que nós avaliamos aqui é, temos três planos do espaço, a aceleração, que o indivíduo está a fazer em determinado plano, a velocidade com que se desloca e também a oscilação. Eu posso avaliar o meu equilíbrio estático», através de «acelerómetros triaxiais que avaliam a minha deslocação nos três planos do espaço», explicou a investigadora.

A avaliação do doente com base na utilização dos diferentes sistemas permite orientar melhor o tratamento. A investigadora explica com esta avaliação «consigo perceber que em função à população saudável aquele parâmetro está anormal e quanto é que está anormal» e «consigo quantificar e depois passar essa informação aos colegas da fisioterapia que fazem o seu plano de treino em função de procurar trazer para a normalidade os planos que estão anormais e eu volto a avaliar e acompanhamos se o progresso está a ser bem conduzido e se está a ter sucesso ou não».

O Campus Neurológico Sénior é uma unidade de saúde privada, mas pode no futuro vir a receber doentes do sistema nacional de saúde público.

Leal da Costa afirmou que «estamos dispostos a estudar as formas possíveis de acordo que nos parecem sempre necessárias com as unidades do sector social e do sector privado, tendo em vista aquilo que para nós é essencial que é uma análise das nossas prioridades e das nossas disponibilidades financeiras, uma vez que como também é do conhecimento público, nós neste momento temos feito um esforço muito significativo de redução da despesa pública nesta área».

Mas é exatamente por isso que o Secretário de Estado referiu que «parece-nos importante a existência de equipamentos privados nesta área com os quais possamos de alguma forma nós, Estado, e estas instituições privadas que no fundo acabam por ser parte do Estado, no sentido de partilharmos os riscos inerentes à prestação de cuidados de saúde e desse ponto de vista julgo que ter um equipamento como este é uma nota muito positiva».

Em 2010, a demência afetava em Portugal 153 mil pessoas e estimativas indicam que dado o envelhecimento da população, a tendência é para que o número triplique em 2050.

A demência, para além de um prolema de saúde, tem custos económicos e sociais elevados. Estabelecer um Plano Nacional para a Demência é cada vez mais uma prioridade.

«Continuamos muito interessados em incentivar as pessoas a ter comportamentos saudáveis, nomeadamente, uma redução muito marcado do tabagismo e da hipertensão arterial que são dois problemas fundamentais que temos de atacar com toda a força porque eles condicionam uma diminuição da sobrevivência das pessoas, mas também uma forma muito clara e um risco muito maior de doenças neurológicas, incluindo as degenerativas», afirmou Leal da Costa.

O Secretário de Estado disse ainda que «não quer dizer com isso que não tenhamos necessidade através da rede neurológica pública e com uma articulação muito estreita com os médicos de medicina geral e familiar, de sermos capazes de identificar precocemente os casos e referenciá-los para centros especializados, mantendo a capacidade de os tratar sempre tão próximo do local do domicílio quanto isso».

O Campus Neurológico Sénior é um investimento de 20 milhões de euros e criou já setenta postos de trabalho.

Fonte: TV Ciência