Tendo em conta os resultados dos ensaios clínicos realizados com o medicamento experimental (Lecanemab), publicados hoje na revista New England Journal of Medicine a Alzheimer Portugal emite a seguinte declaração:

“Trata-se de uma notícia que nos anima, a todos os que estão ao lado dos Doentes de Alzheimer, porque é um passo positivo no combate à doença.

De facto, os resultados, apresentados pelos Laboratórios Eisai e Biogen, de um ensaio com um medicamento (Lecanemab), foram geralmente saudados como um avanço importante, ao fim de décadas de investigação sobre o assunto.

Trata-se, mais uma vez, de um anticorpo monoclonal, na sequência de muitos outros que foram ensaiados e abandonados, e dirigido especificamente à substância amiloide que, como há muito se sabe, se vai depositando no cérebro destes doentes ao longo do tempo.

O ensaio envolveu 1.795 voluntários, que receberam o medicamento de 15 em 15 dias e durante um período de ano e meio. Numa escala de gravidade de 18 pontos os doentes melhoraram a sua pontuação em 0,45. Não se sabe, atualmente, como será a evolução dos doentes com o prolongamento do tratamento, embora seja de admitir que seja positivo.

Por outro lado, os doentes tiveram efeitos colaterais com alguma gravidade. Cerca de 13% desenvolveu edema cerebral e 17% revelaram risco de hemorragia cerebral. Por causa desses efeitos, cerca de 7% tiveram de abandonar o tratamento.

Apesar destas melhorias, o medicamento tem um efeito modesto e o impacto que isso possa vir a ter na vida diária dos doentes é ainda motivo de debate.

De qualquer modo, pela primeira vez se fala de um medicamento que alterou o curso da doença, e mesmo na patologia estrutural que lhe está associada.

Falta saber se essa patologia que foi alterada, (os depósitos de substância amilóide no cérebro) é a mais importante, ou apenas uma parte da sequência de alterações que levam à doença.

Por outro lado, os efeitos relatados seriam sobretudo marcantes nas fases iniciais da doença, o que implicará que o estudo de abordagem nestes doentes, em fase inicial, venha a incluir, de modo generalizado, um conjunto de exames mais dispendioso e com menos acesso, até agora mais reservado ao estudo para investigação.

Mas foi um estudo com resultados animadores.

Não é ainda a solução que resolverá o problema da cura da doença, mas é um pequeno e importante passo nessa direção.

Teremos de aguardar outros estudos para determinar o efeito prolongado e a abrangência do fármaco e, também, se haverá autorização, nesta fase, de introdução no mercado farmacêutico.”

Dr. Celso Pontes
Coordenador da Comissão Científica da Alzheimer Portugal

30.11.2022