
Deambulação
Aqui iremos abordar o comportamento de deambulação de algumas pessoas com Demência. São discutidos os motivos da deambulação e realizadas algumas sugestões para controlar este comportamento.
As famílias e os cuidadores de pessoas com Demência podem ser, a determinada altura, confrontados com o problema do que devem fazer se a pessoa começar a deambular. O comportamento de deambulação é bastante comum e pode ser muito inquietante para as pessoas preocupadas com a segurança e bem-estar das pessoas com Demência.
Esta preocupação surge logo no momento da nomeação, ou seja, no próprio termo Deambulação. O seu significado remete-nos para andar sem objetivo, o que não corresponde normalmente ao real significado deste comportamento. Na realidade, quando andam, as pessoas com Demência têm um sentido, que pode estar relacionado com rotinas antigas (ir buscar o filho à escola ou ir ao café a determinada hora) ou mesmo com a sua profissão (policia, professor, carteiro). No entanto, a perda de memória e o declínio da capacidade de comunicação da pessoa com Demência pode torná-la incapaz de explicar o motivo pelo qual necessita de andar naquele momento – deambular.
Muitas vezes, existe a tendência para os cuidadores dizerem que as pessoas com demência fogem mas, na realidade, o que as pessoas querem é voltar a sua casa, ou ir trabalhar, ou, tal como já referimos, ir buscar o filho à escola. Isto é, a pessoa tem como objetivo fazer algo que faz parte da sua história de vida e das recordações que ainda tem, mesmo que não as consiga verbalizar.
Motivos do comportamento de deambulação
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Alteração do ambiente
Uma pessoa com Demência pode sentir-se insegura e desorientada num ambiente novo, como por exemplo numa casa nova ou centro de dia. O comportamento de deambulação pode parar assim que a pessoa se habituar à alteração. O comportamento de deambulação também pode ser devido ao facto de a pessoa querer escapar de um ambiente ruidoso ou movimentado.
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Perda de memória
A deambulação pode dever-se a uma perda da memória a curto-prazo. A pessoa pode sair para ir à loja ou a casa de um amigo e depois esquecer-se por que motivo saiu ou para onde ia. A pessoa pode, também, ter-se esquecido que o seu cônjuge avisou que ia sair durante algum tempo e por isso ir procurá-lo.
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Excesso de energia
A deambulação pode ser uma maneira de gastar a energia em excesso, o que pode indicar que a pessoa necessita de ocupação e/ou mais exercício físico regular.
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Procurar o passado
À medida que as pessoas se tornam mais confusas, podem passear em busca de alguém ou de algo relativo ao seu passado. Podem, por exemplo, procurar um cônjuge falecido, um antigo amigo ou a casa em que viviam quando eram crianças.
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Expressar o tédio
À medida que a Demência progride, torna-se mais difícil para a pessoa concentrar-se durante algum tempo. A deambulação pode ser uma forma de a pessoa se manter ocupada.
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Confundir a noite com o dia
A pessoa com Demência pode sofrer de insónia ou acordar de madrugada e ficar desorientada. Nesta sequência, pode pensar que é de dia e decidir sair para fazer uma caminhada. As dificuldades de visão ou a perda de audição podem fazer com que as sombras ou os sons da noite se tornem confusos e angustiantes, pelo que não devem sair sozinhos.
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Dar continuidade a um hábito
As pessoas que estavam habituadas a caminhar longas distâncias podem, simplesmente, desejar continuar a fazê-lo.
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Agitação
As alterações que ocorreram no cérebro podem causar um sentimento de inquietação e ansiedade. A agitação pode levar algumas pessoas a andar de um lado para o outro sem um propósito aparente. As pessoas com Demência podem ser incapazes de reconhecer a sua própria casa e por isso quererem ir-se embora.
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Desconforto ou dor
Caminhar pode aliviar o desconforto, por isso é importante descobrir se existe algum problema físico ou condição médica e tentar lidar com a situação. Alguns exemplos são o uso de roupas apertadas, o calor excessivo ou a necessidade de encontrar a casa de banho.
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Um trabalho para realizar
Por vezes, as pessoas podem sair de casa porque acreditam que têm um trabalho a fazer ou estão confusas sobre a hora do dia ou sobre a estação do ano. Isto pode estar relacionado com uma função antiga, como ir trabalhar de manhã e estar em casa no período da tarde para ficar com as crianças.
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Sonhos
A incapacidade de diferenciar os sonhos da realidade pode levar a pessoa a responder a algo que sonhou, pensando que isso aconteceu na vida real.
O que pode tentar
As precauções que vai tomar vão depender da personalidade da pessoa com Demência, bem como da capacidade que esta tem para lidar com as diferentes situações, das razões para a deambulação e, também, do facto de viver num ambiente potencialmente perigoso ou num ambiente seguro.
- Um check-up físico vai ajudar a identificar se o comportamento de deambulação foi provocado por uma dor, doença ou desconforto;
- Discuta os efeitos secundários da medicação com o médico. Tente evitar os medicamentos que possam aumentar a confusão, causar sonolência e possível incontinência;
- É importante assegurar que a pessoa tem consigo alguma forma de identificação para o caso de se perder. Uma pulseira de identificação com o nome, endereço e número de telefone pode ser muito útil quando a pessoa está desaparecida ou é encontrada. Outra opção é usar uma pulseira de alerta médico, com o número de telefone para contacto. Do mesmo modo pode ser útil coser etiquetas com o nome da pessoa nas peças de vestuário que ela utiliza regularmente;
- Caso se ausente de casa, por exemplo nas férias, assegure que a pessoa transporta alguma forma de identificação que inclua a sua morada atual;
- Algumas pessoas acham útil manter um registo ou um diário, de modo a observarem se existe algum padrão no comportamento de deambulação. Este pode ocorrer em determinados momentos do dia ou em resposta a certas situações, que posteriormente poderão ser mais cuidadosamente controladas;
- Tente reduzir o número de objetos à vista, uma vez que estes podem provocar a deambulação. As malas, casacos, cartas para colocar no correio e a roupa de trabalho podem incentivar a pessoa com Demência a deambular;
- Considere colocar campainhas que toquem quando as portas exteriores forem abertas;
- Torne uma parte do jardim segura, de modo a ter um lugar seguro para a pessoa passear;
- Frequentemente, pode fazer sentido informar os vizinhos e os comerciantes locais sobre o problema da pessoa. A maioria das pessoas, após compreender a situação, é muito útil e pode oferecer-se para o contactar caso detete que a pessoa saiu ou algum comportamento diferente
Se a pessoa com Demência desaparecer
- Fique calmo;
- Faça uma busca completa dentro de casa e fora dos edifícios;
- Anote o que a pessoa trazia vestido;
- Alerte os vizinhos;
- Dê uma volta, a pé ou de carro, ao quarteirão, na área mais próxima e a quaisquer lugares que a pessoa visite regularmente. Se possível, alguém deve ficar em casa para o caso de a pessoa aparecer e para atender o telefone;
- Entre em contacto com a polícia local. Informe-os que a pessoa tem Demência e expresse quaisquer preocupações que tenha em relação à segurança dela;
- A polícia vai solicitar detalhes e uma descrição da pessoa e da roupa que trazia vestida. É sempre útil ter uma fotografia recente;
- A polícia também pode perguntar sobre os lugares familiares ou favoritos da pessoa;
- Recorde-se de rotinas antigas de que a pessoa se possa ter lembrado e que queira realizar
Quando a pessoa desaparecida volta para casa
- Avise a polícia imediatamente;
- Não repreenda ou mostre ansiedade por mais preocupado ou incomodado que tenha estado. A pessoa pode ter estado confusa e assustada;
- Tranquilize a pessoa e volte à rotina regular o mais rapidamente possível
Quem pode ajudar?
Discuta com o seu médico as suas preocupações sobre as alterações do comportamento e o impacto que estas têm em si.
Adaptado de Alzheimer Australia