
Cada vez mais existe o medo da Demência? A comunicação parece efetiva, o esquecimento passou a estar na ordem do dia, o nome «Alzheimer» pegou?
Fruto de muitos fatores (longevidade, excesso de tarefas no dia-a-dia, problemas sociais, problemas com medicações, excesso de preocupação, medos de vida e ainda outros fatores), recorrem-nos cada vez mais pessoas com queixas abertas, ou agendas escondidas, de «esquecimento», «confusão» e mesmo medo de «Alzheimer».
E muitos entram em estados psíquicos, às vezes mesmo psiquiátricos, de ansiedade e depressão.
E enquanto lhes não dermos «algo» a situação não melhora. Se há tempos não muito distantes, muitos seriam tratados como deprimidos ou ansiosos, hoje tal deverá ser bem temperado. Criar doentes crónicos de uma doença que não «têm ou sentem», não será certamente o melhor caminho. Aplicar indiscriminadamente MoCA ou MMS é um investimento de tempo que pode também não ter o retorno desejado? Mas, que fazer? Deveremos pensar que os testes orientam na possibilidade de algo já existir mas, no percurso sub-clínico de uma «patologia», é bem provável que o teste negativo seja de um caso de doença de aí a meses, sendo também possível que as queixas «abertas» de alguém não tenham tradução no teste. Logo?
Muitas vezes é necessário recorrer a armas terapêuticas. E aqui surge a questão de saber se o que subjaz a estas é apenas disfunção processual ou alteração estrutural.
E é também preciso saber que futuro terapêutico ou «paliativo» é possível oferecer.
E é preciso saber como tratar dos casos e dos seus cuidadores?
A patologia depressiva esconde muitas vezes, nos casos, a demenciação. E nos cuidadores, a depressão surge muito frequentemente ao fim de pouco tempo.
Que armas farmacológicas? Que armas de capacitação?
Temos uma larga panóplia delas, algumas com provas dadas, tanto quanto é possível garanti-lo?
Mas essa utilização não pode nem deve mascarar a realidade dos factos e tem de ser adaptada a cada caso. Sendo o prescritor o autor de uma modificação, deve saber manusear, pela correcta leitura e pelo conhecimento de indicações, efeitos adversos, farmacodinâmica e farmacocinética do medicamento. E não raras vezes são muitos os medicamentos em utilização na mesma pessoa. Aliás, a polifarmacoterapia é cada vez mais frequente e intensa.
Medicamentos de toma única, com boa capacidade ao mesmo tempo de qualidade de sono, anti-depressão e ansiólise são fundamentais. Não esquecer também que o próprio médico é uma arma terapêutica que sendo mal usada por mal transmitir será factor de «consequências» (out-comes) a prazo, de maus resultados.
E como ensinamos estas matérias? Como as cultivamos, como ensinamos os nossos internos a lidar com a demenciação, aspeto cada vez mais frequente de uma cada vez mais idosa população? Os critérios diagnósticos devem ser iguais em todas as idades? A terapêutica deve ser igual para todos? A terapêutica com ansiolíticos e alguns anti-depressivos estará a ser excessiva? Damos-lhes as necessárias armas para poderem realizar de-prescrição quando esta não é necessária? Mostramos as qualidades necessárias para poderem lidar com situações ainda numa fase quase nada notória ou indiferenciada? Ensinamos-lhes as correctas bases farmacológicas?
São assuntos como estes que devem ser aprofundados no ambiente em que devem ser praticados e onde estão a maioria dos casos: o ambiente de MGF, que carece de estímulos e de tempo para se dedicar à investigação, criando paradigmas de diagnóstico, seguimento e terapêutica nunca esquecendo a questão dos «custos» económico-sociais e financeiros.
Luiz Miguel Santiago
Especialista em MGF (Medicina Geral e Familiar)
MD, PhD