
No passado dia 4 de maio, realizou-se na Fundação Calouste Gulbenkian um workshop destinado a apresentar e a discutir os resultados de um trabalho desenvolvido pela equipa técnica do projeto Cuidar Melhor.
Esse trabalho consistiu na elaboração de um diagnóstico social com vista a apurar o número de pessoas identificadas com demência nos concelhos de Cascais, Sintra e Oeiras, através de uma recolha de dados junto dos equipamentos sociais que culminou na elaboração de um relatório e apresentação dos principais resultados na Conferência Internacional – Doença de Alzheimer no Mediterrâneo, Trabalhando em Parceria para um Melhor Entendimento – que teve lugar em Novembro de 2014 na Fundação Calouste Gulbenkian.
No workshop estiveram presentes cerca de 30 pessoas que, de uma forma ou de outra, se interessam e têm vindo a desenvolver reflexão, iniciativas e trabalho prático de intervenção junto de pessoas com demência e seus familiares.
Assim, para além dos parceiros do projeto, o workshop contou com a participação de deputados à Assembleia da República (Isabel Galriça Neto, Paula Santos e Ricardo Baptista Leite), do Diretor Geral de Saúde, da Presidente do Instituto da Segurança Social, do Presidente do Instituto Nacional de Reabilitação, entre outras individualidades.
Aos participantes foi pedido que se centrassem nas seguintes 3 questões fundamentais:
a) identificação de necessidades
b) respostas de intervenção
c) implementação de uma política nacional.
Tendo sido reconhecido o mérito do trabalho apresentado, os resultados, contudo, não causaram surpresa aos participantes sendo semelhantes a dados obtidos por outras entidades.
Os números da demência são conhecidos, as previsões para as próximas décadas também, assim como a necessidade de melhor preparação dos equipamentos sociais e dos recursos humanos que os compõem.
De salientar os seguintes aspetos aflorados:
1. Equipamentos específicos para as pessoas com demência ou coexistência destes utentes com outros que apenas são idosos ou sofrem de algum tipo de dependência ou incapacidade que determinaram a sua institucionalização?
2. Necessidade de avaliar a situação das pessoas com demência que acorrem ou que se encontram nos hospitais, nos quais, por desconhecimento e falta de formação dos profissionais, as especificidades da demência são ignoradas, com inegável perda da qualidade de vida e desrespeito pela sua dignidade; sendo o processo de doença crónica como é a demência conduzido como se de situações agudas se tratassem;
3. Necessidade de cuidados paliativos específicos;
4. Importância de privilegiar as respostas de proximidade e que promovam a integração social das pessoas com demência e das suas famílias;
5. Importância de abordar o problema nas suas várias vertentes, nomeadamente, saúde, social e jurídica;
6. Necessidade de se definir as fontes de financiamento: público, privado, central, local;
7. Grande desmotivação dos clínicos gerais para valorizar os sinais de demência, por não acreditarem que haja algo de significativo a fazer pois partem ainda de um modelo muito medicalizado em que a intervenção de outros profissionais bem como de intervenções não farmacológicas não são sentidas como úteis; assim como se desvaloriza a importância do planeamento presente e futuro, dos cuidados e dos vários aspetos, nomeadamente jurídicos;
8. Reconhecimento de que para além das pessoas diagnosticadas e melhor acompanhadas, existem as pessoas que vivem isoladas sem qualquer tipo de apoio familiar ou das estruturas sociais;
9. Inexistência de reconhecimento pelo papel fundamental desempenhado pelas famílias que vivem o desafio permanente de conciliar a sua vida profissional com a vida pessoal e dentro desta de conciliar os diversos papéis: de filhos dos mais velhos e de pais dos mais novos.
Por fim, houve consenso quanto à importância da criação de políticas centrais e locais que integrem, coordenem as várias iniciativas, já existentes e a criar, e que ofereçam um modelo geral comum de intervenção.
O Plano Nacional para as Demências, há muito proclamado como uma urgência pela Alzheimer Portugal é, de facto, uma necessidade sentida por quem se preocupa com a problemática das demências e que carece de concretização urgente, assim haja vontade política porque a vontade dos atores sociais existe e está em crescendo.
A Alzheimer Portugal congratula-se com a realização deste workshop bem como pelo facto de ser reconhecida por entidades tão relevantes na sociedade portuguesa como são as Fundações Montepio e Calouste Gulbenkian e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, seus parceiros no projeto Cuidar Melhor.