
As pessoas com Demência confrontam-se diariamente com a perda, pelo que o envolvimento em atividades onde experienciem sucesso parece ser essencial à sua qualidade de vida e bem-estar, motivo pelo qual o Centro de Dia da Casa do Alecrim implementou, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, o projeto «A fauna e a flora reavivam a memória».
A Terapia Assistida por Animais (TAA) («a fauna») constitui uma intervenção terapêutica que resulta da interação entre o animal e a pessoa, fundamentando-se os seus benefícios em casos de pessoas com Demência (Cevizci, et al., 2013). Semanalmente, a Casa do Alecrim recebe uma das três cadelas treinadas para o efeito: a Cuca (atividades de bola), a Pipa (escovagem do pelo) ou a Maggie (caminhadas). As sessões proporcionam diversas oportunidades aos participantes: chamar o cão, dar festas e biscoitos, atirar e receber a bola, escovar o pelo, sentir o batimento cardíaco, passear com a trela, dar ordens e comentar o comportamento do cão. Ao longo das 20 sessões foi notório o aumento de comportamentos sociais espontâneos (o sorriso, o riso, o contacto ocular, o toque e a verbalização), a diminuição da agitação psicomotora, o aumento do envolvimento ativo com o ambiente, a melhoria da função motora e a evocação de vivências pessoais relacionadas com animais.
A Horticultura Terapêutica («a flora») proporciona oportunidades de envolvimento estimulantes e significativas à pessoa com Demência (Jarrott et al., 2002), que a acolhe como uma ocupação produtiva ou de lazer, consoante as suas experiências de vida. Nas últimas 20 sessões, o grupo envolveu-se em variadas tarefas: colocar terra em vasos, semear, transplantar plantas para o vaso, podar, desfolhar e sentir o odor de ervas aromáticas, regar, e, fundamentalmente, selecionar uma planta para ser levada para a Casa do Alecrim, onde deverá ser cuidada consoante as indicações. Os benefícios desta atividade incluem o aumento de iniciativa e interação espontânea com o ambiente, a criação de hábitos e rotinas, a partilha de vivências associadas à agricultura/ jardinagem/ culinária, a diminuição da agitação psicomotora, e, principalmente, o aumento do sentido de autoeficácia, evidente após a concretização do produto final.
A oportunidade de contacto regular com animais e plantas permite, para além do supracitado, que estas pessoas readquiram um papel extremamente significativo e frequentemente já perdido, o de cuidador de outro ser vivo.
Elena Pimentel
Terapeuta Ocupacional
Referências Bibliográficas:
Cevizci, S., Sen, H. M., GüneÅ?, F., & Karaahmet, E. (2013). Animal Assisted Therapy and Activities in Alzheimer’s Disease.
Jarrott, S. E., Kwack, H. R., & Relf, D. (2002). An observational assessment of a dementia-specific horticultural therapy program. HortTechnology, 12 (3), 403-410.