A informação contida nos nossos genes permite-nos prever muitas das características do nosso corpo, como por exemplo a cor dos olhos ou se alguém tem o cabelo encaracolado ou liso. É a expressão das diversas e pequenas variações no código genético de cada um de nós que nos fazem únicos. Estas variações permitem também, nalguns casos, prever se uma determinada pessoa vai desenvolver uma determinada doença. Quando isto acontece, estamos perante uma doença que tem uma componente genética. Tendo em conta as características genéticas, a doença de Alzheimer pode ser dividida em dois tipos: 1) doença familiar e 2) doença esporádica. No primeiro caso, a doença ocorre geralmente em mais do que um membro da mesma família e é normalmente causada por alterações no código de três genes específicos (APP, PSEN1 e PSEN2). No segundo caso, quando não existe um padrão familiar, diz-se que a doença é esporádica. Hoje sabemos que mesmo na doença esporádica existe uma contribuição genética: vários genes dão pequenas contribuições individuais para aumentar ou diminuir o risco do desenvolvimento da doença.

O objetivo da investigação genética na doença de Alzheimer e outras demências é identificar o maior número possível destes genes e fatores de risco genéticos. Se compararmos a investigação na doença de Alzheimer a um puzzle, os genes que já conhecemos como associados com a doença funcionam como os cantos do puzzle. Estes genes permitem-nos começar a resolver, peça a peça, todas as interações e mecanismos biológicos que estão subjacentes ao processo patológico. Logicamente, quantos mais genes e fatores de risco conhecermos, mais peças conseguimos encaixar e mais perto estamos de completar o puzzle.

Infelizmente, a identificação de cada uma das peças é um processo demorado e laborioso. Felizmente, os avanços tecnológicos têm-nos fornecido equipamentos que agilizam este processo.

O trabalho que desenvolvemos no meu laboratório visa exatamente identificar novos genes que de uma maneira ou de outra contribuem para a doença de Alzheimer e outras demências. Tendo em conta os diferentes tipos genéticos de doença mencionados anteriormente, incidimos os nossos estudos em famílias onde a causa genética da doença não é conhecida e em grupos grandes de doentes e de pessoas saudáveis. Usando técnicas diferentes para os diferentes tipos de estudo, fazemos comparações entre as pessoas saudáveis e os doentes para identificarmos onde diferem a nível genético.

Estas técnicas permitiram-nos fazer várias associações entre novos genes e diferentes doenças neurológicas. Um exemplo destes resultados foi a identificação de mutações no gene TREM2 como causa de formas atípicas de demência frontotemporal e a associação de variantes nesse mesmo gene com o aumento do risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Apesar de não existirem ainda tratamentos para estas doenças, no primeiro caso, a identificação da causa genética da doença em três famílias permitiu um melhor acompanhamento clínico e criou a oportunidade para o aconselhamento genético nestas famílias. No segundo caso, a identificação de um novo factor de risco (ainda que presente num número reduzido de doentes) permitiu iniciar novos estudos para determinar a função deste gene na doença de Alzheimer e as grandes farmacêuticas iniciaram programas para o desenvolvimento de fármacos direcionados ao TREM2 e às vias biológicas em que este gene se encontra envolvido.

Os desenvolvimentos tecnológicos dos últimos anos na área da genética colocaram-nos numa posição única para o estudo dos genes envolvidos em diferentes doenças. É um privilégio podermos usar estas técnicas para darmos algumas respostas aos doentes e tentarmos avançar esta área de estudo.

Para mais detalhes sobre o trabalho que desenvolvemos:
Site: https://neurogeneticslab.wordpress.com/about/
Twitter: @TheGBLab

Rita Guerreiro, MSc, PhD
Department of Molecular Neuroscience
Institute of Neurology
University College London
England