
Hoje, no dia em que se assinalam 10 anos sobre o seu falecimento, recordamos e homenageamos uma vez mais o homem e médico que tanto significou e significa para a Alzheimer Portugal.
Relembramos o Editorial do nosso Boletim n.º 21, publicado em Janeiro de 2004:
â??Foi há pouco mais de 20 anos que, por força das circunstâncias, conheci o Prof. DOUTOR Carlos Garcia. Num dos momentos de maior tristeza e angústia que me foi dado a viver, encontrei uma pessoa com quem pude falar abertamente do drama em que a vida da minha Mãe, a minha e a de toda a nossa família se tinha transformado. Fui confortada e confrontada com tudo aquilo que ainda iria viver, mas sempre com palavras sábias e de grande sensibilidade.
O Professor, como todos lhe chamávamos sem ser preciso dizer o nome, sabia e compreendia bem quer os problemas dos doentes quer os dos seus familiares. Foi com isto em mente que começou a organizar reuniões no Hospital de Stª Maria e depois a falar-nos num lugar onde os familiares dos doentes de Alzheimer pudessem encontrar-se para falar dos seus problemas comuns, para aprender como lidar com certas situações desesperantes, para também ganhar algum ânimo, para chamar a atenção para uma doença tão terrível e ainda de tantos desconhecida, incluindo da maioria dos médicos.
Foi assim que em 1988 fundou a nossa Associação, que foi crescendo, passo a passo, sempre com a sua ajuda. Quase tímido, foi-nos proporcionando o que nos faltava – a primeira sede da Associação, o local para a primeira Venda de Natalâ?¦ Foi ele que teve a iniciativa para a realização de cursos de formação, de valor indiscutível tanto para os familiares como para os profissionais. Fez isto e muito mais sem alarde, não querendo nunca evidenciar-se, quase em silêncio. Sempre que havia uma dificuldade, lá estava o Professor, com preocupações éticas e um rigor que, de início, me pareciam excessivos, mas que, com o decorrer do tempo, compreendi serem absolutamente certos e necessários para que a APFADA ganhasse a credibilidade que hoje tem. Por isso, logo nos tempos da Antº Augusto de Aguiar (primeira sede), alguns de nós decidiram que, quando houvesse um Lar ou um Centro de Dia para doentes de Alzheimer (objectivo que sempre prosseguiu e no qual nos fez acreditar) haveria de ter o seu nome, homenagem pequena para uma pessoa tão GRANDE. Porque o era de facto! Por isso a notícia do seu desaparecimento, embora sabendo que se encontrava doente, nos atingiu brutalmente. Não conseguimos imaginar a APFADA sem o Professor! Identificavam-se plenamente. E fica em nós a dúvida e a angústia de não lhe termos manifestado tudo o que sentíamos por ele, como médico e como pessoa.
«Foi um vazio repentino / Que assalta, assombra, afecta / O coração.» (Inês da Fonseca Santos)
ATÉ SEMPRE, Professor!