
A entrada da minha mãe num lar
Eu e a minha irmã visitámos uns 20 lares na zona da Grande Lisboa. Lares caros, lares menos caros. Sabíamos que estávamos condicionadas pelo valor da pensão da minha mãe e que não podíamos exceder esse valor. Mais do que isso, precisávamos dum sitio espaçoso com jardim, onde a minha mãe pudesse entrar e sair de casa sem sair para a rua. Ao fim 3 fins-de-semana exaustivos à procura dum sito, desesperámos! A situação da minha mãe degradava-se diariamente e tínhamos que tomar uma decisão.
E tomámos! Por sorte encontrámos um lar em Lisboa perto de nossas casas. Um sitio onde inclusive os netos por lá passam durante a semana para irem passear com a avó à rua.
O meu primeiro sentimento foi semelhante ao de deixar as minhas filhas pela primeira vez no infantário. Eram tão pequeninas e lá ficavam sozinhas. Foi igual com a minha mãe. Tinha que ser. E foi assim que eu e aminha irmã pensámos.
Viemos do Alentejo com armas e bagagens, recolhemos tudo o que havia no quarto da minha mãe, como fotografias, bugigangas, maquilhagem, tacinhas para pôr isto e aquilo e ainda alguns quadros que a minha mãe pintou. E dissemos-lhe: “Embora mãe vamos para Lisboa!”. Ajudou a levar as malas e toda aquela tralha e meteu-se logo dentro do carro. O primeiro passo correu bem. Mas o pior momento aproximava-se!
Quando chegámos a Lisboa explicámos por poucas palavras que ia ficar naquela casa quentinha com um jardim bem arranjado e… ficou.
Em minha opinião, faz-nos a nós mais confusão deixarmos os nossos familiares num lar do que a eles próprios. Os doentes com Alzheimer têm o mundo deles e vivem em função deles próprios. A nós resta-nos aceitar tal como eles são e adaptarmo-nos ao seu mundo o melhor possível. Não adianta sofrermos, nem culpabilizarmo-nos. É assim que eles são.
Agora quando a visitamos quer logo ir dar uma voltinha pela rua. Começou a dizer mais umas tantas palavras e já arranjou uma amiga lá no lar. Essa amiga que é muito conscienciosa anda sempre a ver onde anda a minha mãe e a tomar conta dela.
A minha mãe participa alegremente em todas as atividades e até ensinou a fazer flores de papel por um método mais fácil, mais rápido e mais bonito.
Agora anda entretida a apanhar umas pinhazinhas que caiem da magnólia e vai pô-las no presépio que está na rua. O Menino Jesus, coitado, na sua caminha já está quase coberto de pinhas!
A minha mãe diz que “a comida é muito boa”. E gosta muito da casa. Anda com um ar feliz e assobia muito. Continua com o seu ar distante característico da doença. Mas achamos que anda feliz.
Por isso cuidadores pensem que é o melhor para os doentes e não tenham remorsos. As instituições têm pessoal especializado que só olham por eles.
Em casa não podemos estar sempre atentos ao que eles fazem e há perigos eminentes que eles próprios criam.
Um Bom Natal para todos e um ótimo Ano.
Carlota Duarte
20 de Dezembro de 2013