Lar e Centro de Dia Casa do Alecrim
“(…) existe o verdadeiro sentido da palavra lar”

Hoje «fecha-se» a casa (o contrato com a Casa do Alecrim terminou) que, desde o primeiro dia, é cheia de boas pessoas. 
Agora uma casa desconhecida se abre (entrada noutra organização)  onde, o sentimento não é de confiança e muito menos se sente que existe profissionais e empatia com os utentes.

A Casa do Alecrim foi a casa que a neurologista da minha mãe me falou.

Um dia, quando em mim já não existia esperança e paciência, liguei para Casa do Alecrim e quem me atendeu foi o Sr. Paulo (rececionista) que, muito simpaticamente, me disse para quando pudesse, passar pela casa do Alecrim e para falar com Drª. Cláudia. Naquele momento, pareceu que se tinha aberto uma janela daquela casa.

Não passou muito tempo para que a Drª. Cláudia (assistente social e responsável do serviço de apoio domiciliário- SAD) me ligasse e, sem me conhecer, foi capaz de me compreender e acalmar dizendo que, assim que fosse possível, me iriam ajudar. Foi nesse momento que senti que mais uma janela se iria abrir.

Aquele que era o dia tão aguardado tinha chegado, o dia em que a Drª. Cláudia me ligou informando que que iriam começar a ajudar através do apoio ao domicílio. Outra janela que se abriu a D. Cristina (ajudante de ação direta do SAD) que,  mesmo sendo uma desconhecida para mim e para a minha mãe, conseguiu conquistar a minha mãe com os seus passeios de carro. 
Para mim, a D. Cristina foi sem dúvida a pessoa que mais me fez ver aquilo que eu desconhecia e que não queria ver, sem dúvida que foi uma grande cúmplice e companheira nesta minha missão. Mas como a D. Cristina muitas outras auxiliares, pacientemente ajudaram a minha mãe no apoio domiciliário.

Veio depois aquele que era o verdadeiro dia mais esperado, aquele em que porta do centro de dia se abriu. Não foi fácil porque, naquele dia, ao levar a minha mãe, revivi o sentimento de preocupação e de aperto no coração que tinha como quando levava as minhas filhas ao infantário.

No Centro de dia, encontrei a D. Paula (ajudante de ação direta do centro de dia) que, sempre que deixava a minha mãe no início do dia, me deixava sempre descansada para mais um dia de trabalho e que me assegurava que tudo correria bem com a equipa de auxiliares sempre prestáveis.

Dentro da Casa do Alecrim, a pessoa de quem a minha mãe mais gostava era a Terapeuta Elena (responsável de CD) que, com aquela voz doce e sempre muito calma, ajudou-me igualmente ao mostrar o caminho que deveria seguir, assim como, muitas vezes ouviu os meus medos e incertezas.

Era ao fim do dia que, aquele telefonema da minha mãe, me confortava ao ouvi-la dizer, toda contente, que já tinha chegado a casa e ouvir a voz da D. Linda (ajudante de ação direta do centro de dia) de fundo dizendo “até amanhã”.

Eis que o mundo acorda para uma nova realidade e, com a covid, o início de uma dura fase começa na minha vida. Para a minha mãe era uma alegria ficar em casa pelo facto de o centro de dia estar fechado mas, com o tempo, de uma grande alegria passou para uma grande frustração.

Foi então que, uma janelinha se abriu inicialmente com as vídeo chamadas da terapeuta Elena, não era segredo que para a minha mãe estas chamadas não eram algo que lhe agradasse muito mas depois, com as visitas da terapeuta em casa, para ela tudo mudou mas, lá no fundo, sabia que a minha mãe queria mais que aquilo.

Quando os passeios da D. Cristina, da Rita e da Marlene (ajudantes de ação direta SAD) recomeçaram, foi uma alegria para a minha mãe, mesmo assim, era pouco para ela e acabei a mudar a minha vida para estar com ela. 

Na primeira manhã das minhas férias, seria um dia para descansar pois era o dia em a minha mãe passeava de manhã e à tarde mas, de repente, a D. Cristina ligou-me para levar a minha mãe ao hospital e, quando lá cheguei, pude deparar-me com o carinho e preocupação da Rita que se encontrava no carro com ela à espera que eu chegasse.

A partir desse dia, tive grande apoio, Drª. Cláudia que, sempre me ouviu e me tirou todas as dúvidas no que poderia fazer tendo em conta a situação da minha mãe.

Com imensa pena minha e grande tristeza, apenas houve algo que não me pode ajudar… abrir a porta do lar (no verdeiro sentido da palavra).

A psicóloga Joana foi última pessoa que ali conheci, foi uma ajuda que eu achava que nunca necessitaria, no entanto, nos últimos tempos foi não só o meu apoio, mas também o apoio da minha filha, tendo-nos ouvido durante várias horas durante toda a altura de internamento da minha mãe.

O tempo foi passando e tivemos de aguardar por uma vaga num lar através da segurança social, há uma semana atrás surgiu uma vaga num lar onde já tínhamos tido uma entrevista a título particular e que na qual me disseram que não tinham condições para a receber. No entanto, antes de entrar no lar, realizou o teste da covid, para nosso espanto e preocupação, este deu positivo e, neste momento, a minha mãe continua na enfermaria da covid no hospital.

Não sei em que dia ela sairá do hospital, mas sei que ela irá para um lar onde não a queriam e onde não conhece ninguém. Mesmo não estando lá ainda , sei que gostaria que fosse para a Casa do Alecrim onde nesta, existe o verdadeiro sentido da palavra lar.

Um eterno obrigada a todas !

De uma Filha de mãe com Demência
2020