Este ano, no âmbito das iniciativas desenvolvidas para assinalar o dia e o mês da Pessoa com Doença de Alzheimer, a Associação lança uma campanha de consciencialização e informação pública, com o apoio da farmacêutica Roche, com o objetivo de promover um maior conhecimento sobre as Demências, em particular, sobre os fatores de risco modificáveis e as estratégias que cada um de nós pode ir desenvolvendo ao longo da vida para reduzir o risco de desenvolver Demência. Com esta campanha pretende-se ainda combater o estigma e apelar para o envolvimento político e mediático em torno desta problemática cada vez mais relevante do ponto de vista social e de saúde pública.
De facto, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, as Demências são atualmente a sétima causa de morte de entre todas as doenças e são também uma das principais causas de incapacidade e dependência das pessoas mais velhas em todo o mundo.
Em Portugal estima-se existirem cerca de 200.000 Pessoas com Demência e as recentes projeções publicadas pela Alzheimer Europe apontam para o nosso país perto de 350.000, em 2050.
Estamos assim, enquanto sociedade, perante um desafio inédito e muitíssimo exigente e temos todos, a nível individual e coletivo, enquanto cidadãos, organizações, e Estado – a nível local e regional, como nacional – que nos envolver e dar o nosso contributo não só para melhorar a qualidade de vida de quem vive com a doença e de quem cuida mas também para prevenir, na medida do possível, as Demências ou, pelo menos, adiar o mais possível o início dos sintomas.
Apesar do contínuo envelhecimento da população e do número crescente de Pessoas com Demência ao longo dos últimos anos, e ao contrário de outras doenças crónicas, pouca atenção tem sido dada ao tema da prevenção. Contudo, existe evidência científica de há um tempo a esta parte sobre os fatores de risco modificáveis associados às Demências.
Com efeito, a revista Lancet publicou em 2017 uma importante revisão da literatura na qual se identificam nove destes fatores, sendo que numa atualização desta revisão publicada em 2020 se acrescentaram mais três à lista. Estes doze fatores de risco são: baixo nível educacional; hipertensão arterial; diabetes; obesidade; abuso de bebidas alcoólicas; tabagismo; depressão; inatividade física; trauma cranio-encefálico; surdez; poluição atmosférica e isolamento social.
Naquela publicação afirma-se que até 40% dos quadros demenciais podem ser preveníveis se, por um lado, se diminuir o risco de lesão no cérebro e, por outro, se aumentar a chamada Reserva Cognitiva.
Devemos, assim, investir na implementação de várias estratégias, a maior parte das quais se relacionam com a adoção de um estilo de vida saudável e com a estimulação intelectual e social.
Primeiro, alcançar níveis educacionais superiores na infância e maiores níveis de instrução ao longo da vida é importante porque a educação é um fator protetor. De acordo com a referida publicação, alguns estudos encontraram associações positivas entre certas atividades desenvolvidas na meia-idade e uma melhor cognição na idade avançada. Exemplos dessas atividades são: viagens, passeios sociais, tocar um instrumento musical, arte, atividade física, ler, falar uma segunda língua, jogar jogos e resolver problemas.
Com vista a minimizar a diabetes, tratar a hipertensão e reduzir a obesidade na meia-idade, três dos fatores de risco elencados, importa cuidar da nossa alimentação e fazer atividade física regular, adequada à nossa condição de saúde e em articulação com o nosso médico assistente. A atividade física consiste também numa estratégia para contrariar o sedentarismo, sendo que a Organização Mundial de Saúde recomenda determinadas atividades físicas a adultos com uma cognição normal para reduzir o risco de declínio cognitivo.
Outras estratégias consistem em deixar de fumar e reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e, com vista a evitar os traumas cranio-encefálicos, importa, por exemplo, cumprir as regras de segurança para diminuir o risco de quedas, acidentes domésticos e rodoviários.
Se a depressão surgir, importa procurar tratamento atempadamente. Também é importante tratar a deficiência auditiva. A perda de audição está associada a uma redução na estimulação cognitiva e, consequentemente, ao declínio cognitivo. O uso de aparelhos auditivos para compensar as perdas pode ser um fator de proteção contra a Demência, sendo que primeiro será necessário avaliar as causas dos problemas auditivos junto de um médico especialista.
No que respeita à poluição atmosférica e enquanto não se implementam políticas nacionais e globais em termos ambientais eficazes, a nível individual, podemos aumentar a nossa exposição a espaços verdes.
Por fim, é fundamental combater o isolamento e procurarmos interagir socialmente de modo regular. A participação em atividades de grupo foi associada de forma significativa a baixas probabilidades de défices cognitivos e pode prevenir o início da demência e o declínio funcional.
Como se pode constatar, há muita coisa que cada um de nós pode fazer pela saúde do seu cérebro. Evitar ou, pelo menos, adiar o inicio da Demência está associado a ganhos em saúde significativos para os indivíduos e para a sociedade. Nunca é demasiado cedo ou demasiado tarde. Temos é de começar já.
Catarina Alvarez
Psicóloga Clínica
Responsável pelas Relações Institucionais da Alzheimer Portugal